Festival Universitário de Música Candanga. Foto: Eliane Batista.
A edição 2024 do Festival Universitário de Música Candanga (FINCA) da Universidade de Brasília (UnB), realizada entre os dias 26 de novembro a 5 de dezembro no anfiteatro 9, resgata memórias e a tradição do evento, que estava parado desde 2017 devido a impasses políticos. Iniciado em 1999, o objetivo do Finca é promover a visibilidade de bandas e cantores alternativos da comunidade acadêmica, além da valorização das produções regionais.
O FINCA é idealizado pela Diretoria de Esporte, Arte e Cultura (DEA/DAC), em parceria com o Decanato de Extensão, Diretório Central dos Estudantes (DCE), na edição deste ano, os Centros Acadêmicos (CAs). Nas edições anteriores, o evento era composto por etapas eliminatórias e uma final, com prêmios para as melhores apresentações, incluindo categorias específicas como música instrumental e júri popular. Esse ano, a dinâmica do evento foi diferente, sendo uma amostra e não mais uma competição, justamente para ser uma versão memorial e preservar a tradição do festival.Cada participante se inscreveu na modalidade de extensionista, e recebeu uma bolsa no valor de R$2 mil para cada banda/cantor e cada CA representado. O repasse foi fruto de emenda parlamentar.
Durante a idealização do projeto, uma exposição em comemoração aos 25 anos do FINCA foi montada, setembro deste ano, no Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo). Contou com uma exposição de imagens, apresentações musicais, vídeo expositório e com o discurso da ex-reitora Márcia Abraão. Ao longo de suas catorze edições, o festival se destacou no cenário musical brasileiro, artistas de grande relevância, que constituem um evento de extrema importância para a vida artística e cultural da Universidade de Brasília e do Distrito Federal.
Confira alguns dos participantes da edição memorial da Mostra Festival Universitário de Música Candanga da Universidade de Brasília 2024.
Uma visita ao Quarto16
Formada por Tales Calázio (vocal), Rebeca Calais (guitarra), Ryan Sullarco (bateria), João Granato (baixo) e Rafael Braga (guitarra), a Quarto16 tem se destacado como uma das promessas da cena musical autoral em Brasília.
A história da Quarto16 começa em 2020, auge da pandemia de COVID-19, quando Tales e Rafael se conheceram pela internet por meio de seus vídeos tocando instrumentos nas redes sociais. “Descobrimos que tínhamos o sonho em comum de formar uma banda”, relembra Tales. Logo, Rafael apresentou Rebeca ao grupo, e os três começaram a planejar os primeiros passos da banda. Apesar das restrições da pandemia, a ideia ganhou força, e a banda foi se consolidando com encontros virtuais e ensaios improvisados na casa de cada integrante.
Banda Quarto16. Foto: Eliane Batista.
O nome da banda sugere um espaço íntimo e acolhedor, onde a arte e as emoções se encontram. “O Quarto16 é um lugar imaginário onde cada pessoa pode ser quem quiser e sentir o que estiver sentindo”, define Tales. Esse conceito é traduzido nos shows, nas composições, na interação com o público e no sonho em conquistar a cena artística brasileira.
A Universidade de Brasília, UnB, ocupa um papel central na trajetória do grupo. Tales, estudante de Psicologia, e Ryan, aluno de Filosofia, entraram na universidade em 2023, e o campus logo se tornou o principal ponto de encontro da banda. “O campus tem sido muito presente na nossa rotina, não só pelo tempo que passamos lá estudando, mas por ter se tornado um local fundamental para nossas criações”, explica Tales. As histórias vividas na UnB também permeiam as letras das canções. “Muitas músicas nossas surgiram lá ou a partir de experiências que tivemos no campus. As paredes praticamente falam com a gente”, comenta o vocalista. A conexão com o público universitário é evidente: boa parte dos fãs é composta por estudantes, que encontram nas músicas da banda reflexos de suas próprias vivências.
Canto é resistência
Miriã Barbosa, mais conhecida como Miih Black, é estudante de medicina, cantora e compositora. Natural do Rio de Janeiro, ela cresceu em um ambiente repleto de arte, influenciada pelo pai, também cantor, e pela mãe, escritora. Desde muito jovem, descobriu a paixão pela música. “Comecei a cantar quando criança, meu pai sempre cantou e cantava músicas que ele compôs. Isso me fascinava. Ainda criança eu gostava de improvisar no canto, junto com meus irmãos – isso com uns 8, 9, 10 anos, e a gente se gravava cantando. Lembro de uma música que compus com a minha irmã verso por verso, escrevendo juntas, ainda na infância.”
Apresentação da Miriã Barbosa no festival FINCA. Foto: Eliane Batista.
Miih é portadora da Síndrome de Ehlers-Danlos (SED), uma condição genética que afeta os vasos sanguíneos, a pele e as articulações, e com a Disautonomia, uma disfunção que compromete os nervos responsáveis por regular funções corporais involuntárias, como a pressão arterial e a transpiração. Nas redes sociais, ela compartilha sua rotina, além de compartilhar suas canções autorais e revelar talento em outras áreas, como a confeitaria.
Canto é resistência. Demonstrar ao mundo, que apesar das mazelas e acasos, todas as vozes merecem e podem ser ouvidas.
Escapismo da Cianuretto
Rafael Amaro, Thiago Soares, João Alves e Gabriel Gomes formam a banda Cianuretto, um grupo que nasceu entre colegas de escola. A ideia inicial partiu de Gabriel, que começou o projeto com outros dois integrantes, guitarra e bateria, como uma típica banda de garagem. Em 2021, o grupo passou por mudanças e chegou à formação atual, consolidando sua identidade musical.
Com o lançamento de seu primeiro single, “Escapismo”, a Cianuretto deixou de ser apenas um hobby para os integrantes e assumiu um caráter mais sério em suas produções. A música teve grande repercussão no cenário alternativo do Distrito Federal, conquistando um público fiel e ampliando a visibilidade do grupo.
O estilo da banda transita entre o rock alternativo, indie rock, shoegaze e dream pop, resultando em um som único. As letras melancólicas, que exploram questões do existencialismo humano e do sentimento de pertencimento ao caos, alinham-se a uma estética visual de cores frias, criando uma atmosfera que envolve tanto o olhar quanto os ouvidos. Esses elementos, juntos, tornam a Cianuretto uma banda de destaque na cena alternativa local.
MPB ao Jazz em pura harmonia
O duo formado por Sofia de Brot e Vítor Oliveira é um convite à sensibilidade e ao talento. Unidos por influências que vão do violão brasileiro aos grandes intérpretes da música popular, os dois músicos constroem um repertório que transita entre clássicos da música popular brasileira e canções menos conhecidas, todas revisitadas com arranjos únicos e uma abordagem intimista.
As composições do duo carregam um lirismo que reflete a natureza brasileira, a subjetividade das relações humanas e a contemplação da vida, suas angústias e reflexões sociopolíticas. Em um encontro que poderia ser descrito como uma relação de amor e devoção artística, Sofia e Vitor começaram a trabalhar juntos, criando e tocando em sintonia com o público e com a cidade de Brasília.
Vitor Oliveira é violonista, compositor, arranjador e professor de violão e teoria musical. Estudante de composição na Universidade de Brasília e fundador de uma escola de música na capital federal, ele começou a estudar música aos dez anos, explorando diferentes linguagens e gêneros. Atualmente, dedica-se à música popular como um espaço de pluralidade, onde sua criação musical ganha forma, encantando e traduzindo sua visão de mundo.
Sofia de Brot é cantora, poeta e professora de canto e musicalização infantil. Estudante de canto popular na Escola de Música de Brasília e de História na Universidade de Brasília, ela foca suas pesquisas na história da música popular. Filha de músico, Sofia cresceu cercada de canções — cantando com o pai e ouvindo incessantemente o rádio com a mãe. Estuda música há mais tempo do que frequentou a escola regular e começou a ensinar aos 18 anos. Para Sofia, a música é mais do que profissão: é o meio pelo qual ela permanece viva, conectando-se a si mesma, às suas origens e ao mundo que tanto ama quanto crítica.
Juntos, Sofia e Vitor transformam a música em um diálogo poético e político, repleto de beleza e autenticidade.
Apresentação de Sofia e Vitor no Finca 2024. Foto: Eliane Batista.
Sol a pino
O duo formado por Maria Silvia e Heloísa Ribeiro, é resultado de uma parceria que vai além da música. As duas se conheceram na faculdade de música da Universidade de Brasília (UnB) e, a partir do namoro, começaram a explorar suas afinidades artísticas. O que começou como sessões despretensiosas em casa logo se transformou em colaborações significativas: Maria Silvia participou do recital de formatura de Heloísa, enquanto Heloísa contribuiu com pianos e vocais no álbum solo de Maria. Essa troca mútua consolidou a parceria, que já dura dois anos.
“Quando surgiu o projeto FINCA, parecia o espaço ideal para materializar o duo Sol a Pino”, comenta Maria. Ali, a dupla encontrou um palco para apresentar trabalhos inéditos e amadurecer sua identidade musical.
Maria Silvia começou sua trajetória na música aos 8 anos, enquanto Heloísa iniciou suas aulas de piano aos 12. Apesar de toda a dedicação à música — que por vezes chega a cansar —, as duas encontram na arte momentos de diversão e conexão. Para elas, a música é tanto trabalho quanto paixão, um campo em que podem crescer juntas e dar voz à sua criatividade.
No Sol a Pino, Maria Silvia e Heloísa unem composições autorais e interpretações marcadas por sensibilidade e autenticidade, mostrando que a música, além de profissão, é um elo que transcende notas e acordes.