A complicada rotina das mães na UnB

No dia 18 de julho foi aprovada, pelo Conselho de Administração (CAD) da Universidade de Brasília, a nova Política Materna e Parental da UnB. Uma medida inédita na instituição, ela é destinada a alunos, professores e servidores técnico-administrativos que sejam mães, pais ou responsáveis legais.

O documento foi elaborado pelo Grupo de Trabalho das Mães da UnB, juntamente com a Coordenação de Mulheres da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), e prevê a criação de uma comissão permanente vinculada à Câmara de Direitos Humanos da Universidade, que deverá monitorar a implementação da política.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos dez anos, o Brasil passou a ter 11 milhões de mães solo, das quais 12% são universitárias. E, na UnB, essa realidade não é diferente.

Arte por Samuel Magnos.

A rotina da aluna Alexandra Martins, de 29 anos, nunca mais foi a mesma desde que engravidou de sua filha na adolescência. Graças ao apoio emocional e financeiro oferecido pela família, Alexandra conseguiu chegar à faculdade, contrariando muitas estatísticas. Durante a graduação, ela acordava às 4h30 para arrumar a filha para a escola e conseguir chegar na faculdade a tempo. O retorno para casa só acontecia às 20h, quando ainda precisava ajudar a filha nas lições de casa e passar tempo de qualidade juntas.

No entanto, com o passar do tempo, as dificuldades só mudaram o foco. “À medida que ela foi ficando mais velha, me cansava menos fisicamente e era um maior desgaste mental. Sentia a cabeça sempre pensando, ser mãe e fazer pós-graduação são duas atividades que não existem férias, então era sempre um pensamento de “devia estar trabalhando, devia estar passando mais tempo com minha filha, devia estar fazendo algo””, relata Alexandra.

Atualmente, após defender o doutorado, sua principal preocupação é o desemprego. O mesmo problema que afeta a estudante de Libras, Rejane da Mata, 43 anos. “Tem que estudar e se virar para manter a casa porque eu sou mãe solo. Moro só eu e o meu filho. É isso que resta, correr atrás”, diz Rejane.

Já para Ketleen Beatriz de Souza, 23, aluna do curso de Jornalismo, a principal dificuldade enfrentada até hoje foi a de conciliar as exigências da vida acadêmica e a falta de apoio por parte da Universidade durante a pandemia de Covid-19. “As aulas eram on-line e eu estava no puerpério. Não consegui conciliar e decidi trancar durante esse período”, comenta.

Ao serem questionadas sobre a nova Política Materna e Parental apresentada pela UnB e quais medidas ainda faltam para ajudar a permanência de mães na universidade, todas entrevistadas concordam: é uma medida muito importante, mas ainda necessita muito para chegar na instituição inclusiva, segura e igualitária que a UnB deve ser.

“Primeiro a academia tem que entender que temos prioridades diferentes, às vezes precisamos faltar por conta de um filho doente, uma reunião da escola, acompanhar em consultas e isso é normal e não nos define como alunas menos interessadas”, reforça Alexandra Martins.

Assinada pela Reitoria no dia 29 de julho, data na qual de fato entrou em vigor, a política prevê a adoção de ações, como: infraestrutura adequada nos campi para atender às necessidades das mães, pais e responsáveis legais; acesso à informação e à comunicação permanente com o público-alvo sobre seus direitos e benefícios; campanhas de prevenção ao assédio moral e à violência institucional contra o público destinado; ampliação da assistência estudantil voltada para estudantes com filhos; garantia institucional do direito à licença maternidade e aos exercícios domiciliares em situações excepcionais; e a construção de dados e de indicadores sobre a realidade materna e parental na UnB.

Além disso, também deve ser criada uma Comissão Institucional Permanente, vinculada à SDH, para monitorar e avaliar a implementação da política. A Comissão será formada por um representante do Gabinete da Reitoria, representantes dos Decanatos de Ensino de Graduação, Assuntos Comunitários, Extensão e Pesquisa e Inovação, um representante da Secretaria de Direitos Humanos, do Coletivo de Mães da UnB, de entidades estudantis, do corpo docente e um representante eleito pelos servidores. Os membros irão cumprir mandato de dois anos, com possibilidade de renovação.

Tanto a matéria sobre a Política Materna e Parental quanto o documento completo podem ser acessados no portal oficial da Universidade de Brasília, na aba UnB Notícias.

 

*Para preservar a identidade das mães entrevistadas e de seus filhos, não foram utilizadas fotos nesta matéria.

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